Desabafo

Sobre o desabafo do vestibular.  Eu quero um curso que tem nota de corte igual a 61. A prova que eu preciso fazer pra passar nesse curso ...

Sobre o desabafo do vestibular. 

Eu quero um curso que tem nota de corte igual a 61.
A prova que eu preciso fazer pra passar nesse curso tem um total de 90 questões. Ou seja, eu preciso acertar 61 de 90, mas isso, claro, se a nota de corte não subir, porque então meu número de acertos também precisa subir. 
No ano passado, eu tinha uma rotina bem cansativa.
Acordava às 6h pra ir para a escola, onde como todos sabem tem um ensino bem defasado se comparado a um colégio particular.
Chegava da escola às 12h20, almoçava e estudava o resto da tarde e durante a noite, onde muitas vezes acabei indo dormir depois da 00h e no outro dia, novamente, a mesma rotina.
Vale lembrar que essa rotina ainda é um luxo, porque muita gente da minha idade, além de fazer tudo isso, também trabalha.
Por fim, prestei dois vestibulares ano passado. Um da USP e outro da UNICAMP.
A unicamp, na época, ainda não tinha bônus na primeira fase, diferente da USP.
E, ano passado, consegui acertar um total de 45 pontos em cada vestibular.
Na unicamp, com corte de 61, obviamente era impossível que eu passasse.
Na usp, por outro lado, com inclusão do bônus, consegui um lugar na segunda fase.
A defasagem e pouca bagagem de conteúdo que eu tinha, mesmo tendo estudado como nunca estudei na vida, me impediram de passar. Não deu certo.
Doeu bastante, mas a vida continua e meus pais me possibilitaram ficar em casa SÓ estudando.
Sem ensino médio, com todo o dia livre.
Sou tão grata que nem sei expressar...
Estudei esse ano incansavelmente.
Acordava todo dia no mesmo horário, sem atrasar. Estudava o dia todo e a noite também.
Dava um total de 8h de estudo por dia, sem contar os finais de semana, onde eu também estudava.
Sacrifiquei muita coisa, vivia estressada, chorava sem conseguir gravar algumas fórmulas e sentia vontade de jogar tudo pro alto quando não entendia matemática.
Crises de ansiedade nem falo, eram constantes... 
Semana passada chegou o dia de um dos dois vestibulares que eu prestei.
UNICAMP, o sonho de universidade.
Fiz a prova, deu tudo certo. 
Terça-feira saiu o gabarito oficial e lá fui eu corrigir.
Acertei um total de 51 questões pra um corte de 61. 
Claramente, bem abaixo da quantidade de questões que eu precisava acertar e mesmo com o bônus que a unicamp passou a oferecer esse ano, eu não vou conseguir.
Às vezes eu penso que a vida é assim mesmo.
Eu fiz o meu melhor e não deu certo.
EU fiz o meu melhor (e continuarei fazendo), mas calma aí, o que estão fazendo por mim?! E por outros iguais a mim?! 
Será que eu devo mesmo acreditar que eu consigo competir com todos os outros que final de semana passado estavam embaixo de suas tendas do Poliedro e do Anglo pra não pegarem sol?
Será que eu devo acreditar que meu ensino médio e fundamental extremamente defasados que refletem hoje na minha dificuldade em matemática não querem dizer nada frente aos alunos das melhores escolas particulares de São Paulo?
Será que eu devo acreditar mesmo que os que estavam prestando biologia na minha sala de prova com camisetas do Poliedro tem a mesma bagagem que eu? 
O que estão fazendo por mim? Fechando escolas?
Eu to fazendo muito por mim e pra mim, mas mesmo assim não é o suficiente por mais que eu tenha me esforçado.
E dói. Dói mais ainda ler no meu facebook pessoas dizendo que eu não preciso desse bônus que as universidades estão me oferencendo, porque a minha capacidade e a dos meus colegas de escola e dos cursinhos comunitários é a mesma que a de qualquer um.
Realmente, eu não queria precisar dessas migalhas simplesmente por ter frequentado o ensino público. Mas, INFELIZMENTE, foram essas migalhas que me fizeram passar pra segunda fase ano passado. E que também vão fazer alguns poucos alunos de escolas públicas entrarem nas universidades.
Queria não precisar de migalhas, mas eu preciso. E no final, migalhas não passam de migalhas propriamente ditas e que não são o suficiente pra me fazerem competir sem desigualdades com meus concorrentes que vieram dos colégios com mensalidade de 3 mil.
Me sinto muito triste, sinceramente.
Não triste pela minha nota, mas triste pelo contexto no qual minha nota está inserida.

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